Marielle, padroeira dos autos de resistência e comissões da verdade

 Arquivo de texto postado em Mar 20, 2018 no Medium


Marielle, padroeira dos autos de resistência e comissões da verdade

Apesar da vida tentar aparentar que caminha normalmente, existe um certo medo no caminhar das pessoas. O futuro, que antes seria apenas difícil, agora parece obscuro.

Somos um país sem chão. Os policiais, que deveriam nos defender nos encaram como inimigos críticos de seus atos e autos de resistência.

Somos olhos que julgam, comissões da verdade que caminham. Eles também tem medo. Um medo que se veste de poder, raiva guardada e salário baixo. Medo que toca gatilhos.

No fundo eles sabem que quem protesta a morte da moça linda com sorriso de vida não protesta contra eles.

Eles sabem que nos estamos juntos na mesma viatura ou rabecão e sempre somos nós que morremos todo dia, moradores da periferia, sempre na mira, seja policial, seja criminoso, seja cidadão ou vereadora.

Uma brasileira morreu, só mais uma na estatística, mas foi contrariando todas essas estatísticas que ela viveu.

Não bastasse ser mulher é muito mulher, ela era negra, era lésbica, era mãe e mesmo assim conseguiu se eleger e como se tudo o que foi citado não bastasse, ela conseguiu se eleger pelo partido SOCIALISTA como a 5° mais votada no Rio de Janeiro. E se essas estatísticas não impressionam, lembre que eleita ela ainda olhou pra favela e sabia que a favela somos nós, cidadãs e cidadãos, policiais e bandidos.

No fundo, eles sabem que protestamos sobre a morte da legalidade, que já estava abalada desde o impeachment e agora foi atingida na cabeça, com 4 tiros certeiros.

Os meios de comunicação que antes não repercutiam as tais “pautas de esquerda”, foram obrigados e se encher de Marielle e a elite estranhou ver, pela primeira vez, o rosto de uma pessoa negra impresso na maior parte da cobertura da semana e abrir espaço para as pessoas negras, violência na favela e amores lésbicos.

Quem antes ditava o pensamento da direita, hoje precisa mudar a técnica rasteira, pois são questionados diariamente por uma população que está de luto e que luta e agora não deixa passar notícia falsa sobre essa que agora virou um símbolo de um país desigual.

Ela morava onde existem milhões de mulheres iguais a ela que todos os dias conseguem resistir a tudo. Mulheres de aço que não resistem a balas, seja de quem for, de marido, bandido, melicia ou exercito.

Mulheres que resistem e tentam criar seus filhos todos os dias, vestem suas responsabilidades e ainda conseguem amar e defender quem as condena, o Brasil.

Ela era um alvo perfeito, apesar de ser de aço, o Brasil não reconhecia mais essa sua filha que cresceu na margem. A trajetória de aço escondia um coração enorme de carne e sangue e uma mente que portava toda a população pobre do Rio. Alguém apertou o gatilho automático e conseguiu acertar esse alvo. Alguém que graças a internet, hoje sabe o que representava a Marielle.

Hoje o Brasil chora por essa sua filha bastarda que cresceu fora do sistema e conseguiu voar tão alto quanto Ícaro: Uma Ícaro mulher, mãe solteira, lésbica e favelada.

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