O partido e os trabalhadores

arquivo de texto postado em Dec 28, 2016 no medium



O partido e os trabalhadores

Como o ódio ao PT está sendo transformado em combustível contra as leis trabalhistas.

Existe uma forte campanha difamatória contra o PT (partido dos trabalhadores), disso todos sabemos, nós também da corrupção que permeou o governo do partido mas de onde vêm tanto ódio ao PT? Vamos tentar ver essa questão fora das paixões e dos bairrismos desse país que trata futebol como coisa séria e política como flaflu.

Não sou petista, não sou afiliada ao PT, por muito tempo tive inclusive uma raiva desinformada do partido, similar a essa que critico agora. Hoje consigo ver a legenda como um partido político apenas, feito por pessoas que foram eleitas, assim como todos os outros partidos. O PT nem é o primeiro no ranking de corrupção.

O mais corrupto nem é o PT, então o que justifica o ódio?

Para analisarmos o que faz com que o PT tenha uma rejeição tão grande na sociedade brasileira temos que voltar a criação do partido, durante a ditadura militar.

O mote que justificou o golpe militar de 64 foi a luta contra o comunismo. O mundo vivia uma guerra fria entre os Estados Unidos e a Rússia, a política se fazia em alianças nem sempre dentro da lei para consolidar poderes ideológicos e econômicos; nesse cenário, Cuba mesmo sofrendo as restrições do desumano embargo, continuava fazendo oposição a gigante máquina econômica e política dos Estados Unidos.

Pensar diferente do conservadorismo militar da época, com forte ideologia anticomunista enlatada dos Estados Unidos era uma questão de vida e de morte. Na América do Sul, diversos golpes antidemocráticos e assassinos se consolidavam. A democracia sul americana foi censurada, calada, torturada, estuprada e oprimida.

A lógica do macartismo era considerar antiamericana qualquer ideia que pudesse ser associada ao pensamento comunista, mas como esse é um conceito muito amplo, a régua do que fazia uma pessoa ser considerada comunista era bastante extensa e englobava desde quem era ligado a partidos, guerrilheiros até o absurdo de classificar como comunistas, trabalhadores exigindo melhores condições de trabalho, professores e intelectuais. Nada de novo sob o sol de 2016, basta olhar a página do MBL.

O Brasil vivia sob a ditadura militar, um regime autoritário e assassino instalado para que, segundo os militares, o país não sofresse um golpe de um regime autoritário assassino só que ~comunista~

O temor a ascensão da classe trabalhadora através da ideologia comunista sempre esteve presente na elite predominantemente conservadora. A ideologia anticomunista teve diversas associações que a ligaram ao mal. O discurso da inexistência de propriedade enchia a classe dominante de medo. Tudo isso criou uma distorção muito grande que sempre associou partidos comunistas a valores execrados por essa sociedade.

O PT surgiu durante a ditadura militar no Brasil, tinha uma grande concentração de operários das industrias do ABC, de sindicalistas e de intelectuais. Daí para a ditadura militar brasileira tachar essa aglomeração como comunista foi um pulo.

Fernando Henrique e Lula participaram de uma reunião com intelectuais e dirigentes sindicais, para discutir a criação de um novo partido.

Desde a sua criação, o partido foi associado a luta comunista, apenas por defender a causa dos trabalhadores. No principio, o discurso do partido era bastante associado as lutas trabalhistas e da distribuição de terras e renda. Por isso, desde a sua criação, sempre esteve na mira do discurso anticomunista propagado pelo regime militar e pela elite plutocrática.

A minha geração nasceu nos estertores da Rússia soviética, crescemos em meio a ascensão vitoriosa do capitalismo, a queda do muro de Berlim e a vitória nos meios de comunicação da sensual e criativa ideologia capitalista, propagada nos filmes, na TV, no rádio, no apelo ao consumo e na globalização. Na era das comunicações, o jornalismo sempre permeado pela propagando e feito por grandes conglomerados empresariais também se adequou bastante a lógica capitalista. Entramos em um novo milênio que trazia novas ideias e novos conflitos.

A ascensão do PT ao poder em um país tão conservador quanto o Brasil se deu em um ambiente de desemprego e desigualdade social, mas com uma moeda relativamente consolidada. Ao fim do governo FHC, tínhamos uma taxa de desemprego de 12%, com apenas 27% de empregos formais. Após a quarta candidatura, e com ideias mais amenas do que as pregadas durante a ditadura, Lula foi eleito.

Nexo Jornal

Desde sempre, o governo petista teve uma grande rejeição de quem carregou a imagem plantada durante a ditadura, de um partido com causa comunista. A mídia tradicional, que é bastante partidária, contribuiu bastante com o sentimento do país em relação ao partido, as denuncias de corrupção nunca tiveram tanto espaço no noticiário quanto no governo Lula. Não foram raras as vezes que a propaganda antipetista usou investimentos em Cuba, ou as relações comerciais com a Russia e a China para novamente associar o partido as empoeiradas e ultrapassadas ideias do comunismo.

Propaganda antipetista

O partido comunista brasileiro foi muito oprimido durante a ditadura, sofrendo diversas baixas em seus números, inclusive chacinas na sede do partido. Vale ressaltar que hoje o partido comunista participa do estado democrático com uma bancada eleita democraticamente e dentro da realdade política do Brasil, o partido defende ideais ligados a causa trabalhista. Mesmo estando dentro da legalidade e tendo acabado a guerra fria, o partido tem sofrido atentados durante nos últimos anos.

No governo petista tivemos uma baixa histórica no desemprego, no entanto, em um cenário de crise internacional, as políticas do governo de fortalecer o papel do estado na economia tiveram um papel importante durante a crise mas não se sustentaram em um ambiente internacional de baixa dos preços dos commodities e ambiente interno de seca.

No entanto, a pencha que mais ficou associada a imagem negativa do partido foi usar causas assistencialistas como palanque eleitoral. O bolsa família foi uma das políticas que teve mais sucesso no partido, mas que também foi uma das mais rechaçadas, principalmente pelas elites. As políticas de incentivo a classes trabalhadoras como a das empregadas domésticas e a política de reajuste de salário também foram bastante rechaçadas pela elite brasileira.

No pós impeachment, o que percebemos é que as primeiras medidas do governo foram amenizar essas políticas, através de mudanças nas leis trabalhistas e em políticas de distribuição de renda.

O filme tratou das relações entre patrões eempregado no cotidiano do trabalho doméstico

Traçando um paralelo, assim como o PT é massacrado pela opinião pública, vemos toda uma classe trabalhadora que está sujeita a perder o direito a aposentadoria e perder as garantias das leis trabalhistas sucumbindo a revolução das elites que protestaram contra os absurdos do governo petista do conforto de suas varandas em áreas nobres.

O problema dessa situação toda é que até os ricos e a classe média receberam os lucros da política de distribuição de renda e lucraram vendendo alimentos, saúde, moradias e carros graças a incentivos do estado. Agora essa classe que defende estado mínimo cobra que o país reduza ainda mais os investimentos e o resultado se vê sem mercado consumidor. Quando os ricos do Brasil vão perceber que quando se paga menos aos seus funcionários, isso retorna para eles em forma de menos consumo de seus produtos?

Fontes:


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