"Escrever é minha cachaça"

Eu vou colocar umas flores e talvez uns incensos ou velas, eu posso acrescentar umas cortinas, eu posso pensar em um cheiro que combinasse com a forma que eu queria que você tivesse me olhado aquela noite. Cheiro de fêmea. Eu posso aumentar e diminuir o brilho nas tuas pupilas gigantes e o fogo das velas refletido nelas. Eu posso acrescentar o frio que eu teria sentido na espinha e a mistura na minha barriga com o calor que subiria pelas minhas pernas.  Eu posso imaginar a textura do seu lábio inferior, a temperatura e até o gosto de terror que o Chico Buarque cita na música. Eu posso fazer o que eu quiser por que na minha imaginação toda a vida funciona da forma ideal, os beijos que devem ser dados se dão e os amores que devem ser feitos se fazem. Por que na minha mente aquela fração de segundo onde nascem beijos e até universos dura o tempo que eu quiser.

Precisa chover nessa terra seca, a gente reza a Deus, a gente dança e chora, a gente se muda e chora e se chorasse um pouco mais haveria um açude de água de lágrima. A terra é vermelha ou preta, a terra voa com o vento na nossa cara e desenha a lágrima, a lágrima igual a do gado deitado sobre o solo quente, olhando pra gente chorando embaixo do céu azul e laranja. Passam as nuvens pequenas lá em cima, elas tem um pouco de esperança, esperança que passa e não chove. O céu azul é testemunha da nossa prece calada, olhando pro céu, procurando o pai, pra onde ele foi e porque levou nossa água? E assim passam os anos, a terra, gestante e magra, vai parir escassas sementes para alimentar nossos filhos, nós e a terra. Nossos filhos vão crescer ali, embaixo do mesmo sol, e o tempo vai passar junto com o vento e a poeira. Pra quem sabe um dia o paraíso a gente encontrar, espalhado nessa terra, verde, molhado, com baijas de feijão e cachinhos de arroz. Deus voltou e trouxe a água. ...

Essa história mal escrita me tirou a concordância e a regência. Dei a ela todos os meus adjetivos. Fiquei página em branco, voz passiva, sujeito indeterminado, um travessão mudo, artigo indefinido, verbo regular, deixei de ser. Quisera ser feliz, quando me imaginava primeira pessoa do plural, pretérito mais-que-perfeito. Hoje reaprendo a viver e sofrer infinitiva e no singular, enxugando as virgulas do meu rosto. Reescrevendo as orações do passado sem o teu pronome de tratamento eternamente oblíquo. Tentando ler a vida além do ponto final. Preciso de uma borracha pra apagar a memória, novas regras de acentuação, enxugar os períodos em casa, parar de acreditar nos amores-perfeitos com ou sem hífen; conhecer novas línguas e embarcar em algum realismo fantástico.

Imagem: weheartit Até bem pouco tempo atrás, eu queria mudar o mundo. Hoje descobri que o mundo sou eu...

Alguma coisa vai mudar, eu sei, eu já mudei. Meu espírito é como um rio que procura o mar, minhas águas já não são mais as mesmas, e eu comemoro outra revolução buscando o mar. Por hora meu espírito agradece, louva pela luz que mergulha do céu e desliza suave, brilhando nas copas das árvores, lagos, flores, admiro a tela de Deus. Por hora o tédio me consome, enquanto o tempo me arranca de mim. Saboreio meu caos particular, caos gerador, caos criador. A cada ano tento me resumir, filtrar tudo o que eu vivi, destilar o que vou levar pra sempre; tento evoluir. Embora me pegue por vezes topando nos meus erros de criança, com medo do escuro, querendo colo, seio e alento de mãe. Renasço das minhas cinzas, reacendo a chama, olho o horizonte com olhos destreinados e me apaixono mais uma vez pela vida; minha alma flameja, vendo tudo pela primeira vez, me apaixonando de novo e de novo. Confesso que não existe sensação melhor do que a de começar algo, uma folha bra...

Amor à primeira vista, de verbo, não se faz carne, não existe além das palavras, amor de verdade precisa se conhecer bem, e ama-se principalmente os defeitos, não existe sensação melhor do que sentir-se amado em seus defeitos. Amor de verdade só se concede depois de horas de voo ao telefone, noites não dormidas, amor de verdade exige ver por baixo da roupa, principalmente por baixo da maquiagem, a cara amassada pela manhã, o delicioso mau humor, o silêncio compartilhado onde se fala tudo, telepatia da intimidade, pra quem é adepto, nada melhor. Melhor ainda é a vontade louca de se contar inteiro pra outra pessoa, e a lembrança que te acompanha o dia inteiro, tão natural, de ver os olhos brilhar por suas conquistas como se olhasse em um espelho, ah! Esse sim, é o amor. O amor é abstrato por natureza, exige expressão carnal de desejo. Sentir-se amado de corpo e alma. O resto é problema matemático.

Imagem: WeHeartIt Meu corpo tenta dialogar com minha alma, e os dois com a minha razão, tenho vivido dias cheios e também cheios do seu vazio e do vazio que você deixou, meu corpo inteiro reclama sua ausência, e quer agir, quer curar esse mal, quer te pegar, sem nada dizer pra falar a língua que nossos corpos conhecem tão bem. Meu corpo grita seu nome em espasmos, meu corpo lhe confunde com outros corpos, mas para diminuir a falta que você deixou, Só não esquece o seu nome, e o sussurra baixinho nas madrugadas, pra alguém que não é você, tento desconversar, e dizer que é mais uma palavra, daquelas que jorram  aos litros nos momentos de torpor, de êxtase, mas que não significam, então minto, pois seu nome está sempre marcado no canto da minha boca, e quem sabe exerça tanto fascínio às minhas palavras, quanto tua representação carnal representa pra mim, seu espectro me acompanha o dia todo, e sempre sorri, então se esvai enquant...

Talvez o amor seja um defeito de fabricação, pelo olhos do amor enxergamos o mundo. e amamos para não morrer da verdade, e assim o amor se torna nossa maior obra de arte, esse amor ameniza o caos do mundo e isso nos salva, nos dá razão pra existir, talvez o amor seja tudo que existe, e esse amor certamente construiu tudo o que existe, continua pintando o céu todas as manhãs, sua voz são os hormônios, as flores, os olhares, as poesias, seus olhos devem ser a beleza, somos poeira de estrelas e vamos pelo universo, e assim talvez o mundo só exista porque amamos e para amarmos. Vou fazer dessa minha verdade uma religião, filosofia a até física quântica; e enxergar tudo pelas lentes do amor, e amar incondicionalmente tudo o que couber no meu tempo de vida. Amar o sorriso e as histórias contadas pelas rugas da velha na rua; amar os grosseiros e meio amargos afinal ninguém suportaria um mundo de simpáticos e doces; vou amar os errados, os certos, os...

Felicidade é a eterna procura por felicidade, não é o destino e sim o caminho...

Escrevendo, escrevendo, amo escrever desde criança, me escrevo sempre, até mesmo pra me contar pra mim mesma, me entender nas folhas do caderno, não me importa se não tenho estilo ou forma, escrevo a minha forma e basta. A escrita é um mistério, a forma das letras nos conta a história dos que vieram antes, acredito na consciência coletiva, acredito que todos nós somados as plantas, aos animais, as pedras, formamos um grande texto, escrito por uma mente superior. As palavras são um delicioso mistério que gosta de se revelar à quem se dedica a descobrir seus textos escondidos, como uma mulher que gosta de ser despida vagarosamente, assim são as palavras. Mistério, quantas ideias cabem nessa palavra, quantas imagens se formam em mim, como três sílabas se uniram pra significar segredo, esconderijo, dúvida e sobretudo curiosidade. Me delicio com a história que as palavras contam, seus prefixos, sufixos, tão...

          Hoje é um dia qualquer, de sete anos atrás. As músicas, as pessoas, a arte, a política, a moda são um eterno ciclo; e de uns tempos pra cá o novo está cada vez mais repetido.  Eu mesma me perdi nesse período, há tempos atrás eu sabia aonde ir, o que fazer, hoje nada tem mais muito sentido. A vida é mesmo cheia de rasteiras, me mastiga com seus dentes de mulher, me faz no presente sentir falta de um passado em que eu desejava o futuro.  Vida bandida, vida cúmplice, quantas vezes me deu e tirou os amores, faca e queijo e me faz acreditar que se pudesse faria tudo igual.  Talvez não!  Dessa vez pesaria na mão na hora de errar, na hora e lutar pelas pessoas que eu amo, não aceitaria alguns argumentos, fugiria menos, brigaria mais. Não que eu me arrependa, mas as coisas  que eu deixei que acontecessem e principalmente tudo o que eu não fiz, voltam nos dias nublados e nas noites insones. São minh...

Cheia de vontades, tantas que se chocam,se debatem, me descubro a cada olhar pra mim e para os outros, estou escrita neles e eles em mim. como um rio, os sentimentos vem em torrentes, de fúria, de amor, de desejo, de vontade de ler tudo de uma só vez, de aprender tudo de uma só vez, como se algo dentro de mim quisesse por força se libertar, quisesse explodir. não sigo regras, tento ser diferente, não me explico, as vezes acho que não sei falar. enquanto isso, meu caminho é cortado por milhões de traços, milhões de pontos, ideias opostas. luto contra as minhas idéias, luto pra criar minhas próprias motivações. me pergunto mas porque mesmo comecei essa ideia, por que mesmo fiz o que fiz. passo reto, olhando pro horizonte, pra nossas mentes exteriorizadas, pra tudo que se adapta ao nosso corpo, pra o que somos de verdade. nossa bendita ergonomia, nossa hedonista ergonomia. e entre o hedonismo e o questionamento eu sigo. perdi a pretensão de saber o que quero faz...

Achei em seus olhos, caminhos a percorrer, Sentimentos que desejo. Toda a poesia, qual pintura contendo pintura. Beleza que não se explica, por não conter beleza, ou por não caber em qualquer explicação. Belas as explicações seriam. Exposta excessivamente ao seu olhar Curiosa, em discreto êxtase, meio viciada Tentando disfarçar a luz que meus olhos engoliam, Sem compreender, sem conseguir te traduzir, desejando ficar ali pra sempre, tentando prolongar a brevidão do que é eterno. Seus olhos gritavam milhões de palavras entre amor e fúria, paixão e distância, que combinados a vontade que entrava por meus ouvidos, dominavam meus poros. Lacuna. Te escrevo sobre mim sem letras.

De acordo com pesquisa do Ibope divulgada nesta quinta-feira (28), 55% dos brasileiros são contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar a união estável homoafetiva em maio deste ano. É a primeira pesquisa do gênero realizada no Brasil. Entre as mulheres, 52% são a favor, enquanto o número é de apenas 37% dos homens. O instituto informou os dados relacionando religião, idade e escolaridade dos entrevistados. A idade dos brasileiros mostra que os mais velhos são contra, enquanto os mais novos tendem a ser a favor. 60% os brasileiros que tem entre 16 e 24 anos e apoiam a decisão, enquanto o número atinge apenas 27% entre os adultos com 50 anos ou mais.  O que mais diverge entre os brasileiros é a religião da população. Entre os declarados católicos e ateus, 50% apoiam o casamento gay. Enquanto 60% de espíritas e adeptos de religiões não-cristãs também dão seu apoio.  Em relação à escolaridade, apenas 32% dos brasileiros que cursaram ...

E vem a pulsão, o ímpeto, vontade, honesta e interessante, vem e leva minha atenção, minha paciência, meu politicamente correto. Acelera meu relógio, quero falar a verdade, quero dizer que quero muito e agora, e não apenas dizer. Vou aceitar qualquer idéia revolucionária, e viver os vários momentos de várias maneiras desesperadas, ensinadas por pessoas desesperadas, que não acreditam no que dizem, não importa, estou viva, vem também, abraça minha loucura, entende minhas pulsões de domingo a tarde e lembra que segunda eu voltarei a ser meio número, meio gente, meio música, meio rede. Hoje e domingo, depois da coca-cola no almoço, o mundo me permite errar se eu disser que assim aprendo alguma coisa.

M.C. Escher, Céu e água I, 1938. Tic tac O tempo escorre como água pelas mãos, já disse isso antes, e por que água, por que não a imagem mais utilizada, da areia na ampulheta? Semiótica a parte, o tempo vai, o grito continua aqui na minha garganta, machucando, preso querendo se libertar, querendo sair e ver o mundo. Não consigo me imaginar não saindo de um caixão, em um lugar empoeirado, do meu lado meus livros, minhas idéias, tudo tão antigo, e tudo ruindo, acabando, e eu mesma estou cheia de poeira, não consigo ver a verdade, fora das sombras dessa caverna, a velha alegoria. A velha busca, de ir além, persegue homens e mulheres desde os tempos mais remotos, a vontade de entender Deus, entender a nós próprios, desejo de estar perto dele. Megalomania. As vezes penso que Deus existe sim, existiu desde sempre mas é fruto da consciência, mas por que tenho tanto medo de dizer que as vezes não acredito que exista um Deus, mas (e tento me desculpar com Deus)isso passa e vej...

Acordei, junto com a semana útil, quis dormir um pouco mais, a protelar o sol, ou semi-sol que essa segunda-feira trouxe, permaneci deitada, de olhos fechados, apenas ouvindo os sons a minha volta, primeiro ouvi a avenida longe, que rufava, cantava o som da pressa, depois ouvi os sons da vizinhança, portões, tv´s, e depois ouvi um som que ouço todos os dias, porém nunca dei muita atenção, os sons das crianças do colégio ao lado. A princípio alguns gritos se destacavam em maior volume, depois todos eles se misturavam e se tornaram um só a os meus ouvidos. Elas gritavam, corriam, mais pareciam pássaros em revoada. Seus gritos e sorrisos vistos em sinfonia tem um ritmo, assim como o ritmo dos pássaros.  Talvez porque ambos sejam livres, os pássaros porque são condicionados a liberdade e as crianças, porque ainda não descobriram como prender a si mesmas. Não há como negar o apelo dos pássaros, e a felicidade gratuita das crianças, e a vida que chega e transborda, extrav...

Confesso, tenho me esvaído dos meus desejos, principalmente do desejo por você. Como quando o tempo refletido no quarto te incomoda e você decide que já é hora de se desfazer de tudo aquilo que não tem mais utilidade, a decoração antiga. O tempo me incomodou, em um desses cruzamentos das avenidas, ou em um desses cruzamentos do Sol com Júpiter. Então você estava lá, como um artigo ultrapassado em uma revista velha. Entre tantos outros artigos velhos. E ao limpar meu quarto, abri espaços, arejei, abri as cortinas (as tirei), deixei o Sol entrar e ocupar o lugar de tudo que era antigo, embolorado. Meu quarto está mais leve, meu sorriso bem mais fácil, minhas roupas limpas e amaciadas. Quanto a você, espero que alguém te recicle...

Acho que sou sensível demais. Pisciana, criada pela avó (que é virgíniana). Cresci entre as frutas e as flores que ela plantava, e ainda planta. Ela também me ensinou a amar os animais, além de ter me ensinado todas as orações e brincadeiras do tempo em que era criança, na verdade ela ainda tem o espírito de criança. Comunhão com a natureza, acho que o coração amoleceu demais. Não consigo ver o mundo do jeito que os meus amigos vêem. Confesso que as vezes a minha visão é pouco prática, já tentei mas não consigo mudá-la. Sou sensível mesmo. Gosto ou não das pessoas de primeira. E gosto mesmo. Se não gosto, geralmente dou uma segunda chance, já dei até a terceira. Brigo pelo que amo e por quem amo também. Gosto das pessoas, pra mim são como quadros. Cada um com suas cores, reflexos de vários meios, várias crenças, cometendo erros ou acertos, fazendo coisas lindas ou nem tanto. Cada uma com um caminho, com uma história de vida imensa. Interessante ver além das aparências, além das impres...

Não deixo de ver a candidatura de algumas personalidades do humor como uma certa gratidão pela honestidade que os mesmos demonstram em seus discursos, em suas propostas. Infelizmente a candidatura desses palhaços profissionais é muito mais honesta e legítima do que a da maioria dos candidatos que usam discursos incompreensíveis à maior parte da população pra proferir as mesma piadas. A grande palhaçada está literalmente em nossas mãos, afinal os Sarney´s, Collor´s, entre tantos outros que brincam livremente com a máquina pública de acordo com suas pífias necessidades, continuam se elegendo com votações realmente expressivas, e debatendo com meus amigos(na verdade me debatendo em desespero) ví que poucos se importam com a honestidade, a maioria me disse que aceita sem objeções um mensalão qualquer pra apoiar os projetos desse governo populista que aí está. Educação, consciência política, necessidades urgentes.