Pulsões de domingo à tarde.



E vem a pulsão, o ímpeto,
vontade,
honesta e interessante,
vem e leva minha atenção,
minha paciência,
meu politicamente correto.
Acelera meu relógio,
quero falar a verdade,
quero dizer que quero muito e agora,
e não apenas dizer.
Vou aceitar qualquer idéia revolucionária,
e viver os vários momentos de várias maneiras desesperadas,
ensinadas por pessoas desesperadas,
que não acreditam no que dizem,
não importa,
estou viva,
vem também,
abraça minha loucura,
entende minhas pulsões de domingo a tarde
e lembra que segunda eu voltarei a ser meio número, meio gente,
meio música, meio rede.
Hoje e domingo, depois da coca-cola no almoço,
o mundo me permite errar se eu disser que assim aprendo alguma coisa.

Tic tac.

M.C. Escher, Céu e água I, 1938.




Tic tac
O tempo escorre como água pelas mãos, já disse isso antes, e por que água, por que não a imagem mais utilizada, da areia na ampulheta?
Semiótica a parte, o tempo vai, o grito continua aqui na minha garganta, machucando, preso querendo se libertar, querendo sair e ver o mundo.
Não consigo me imaginar não saindo de um caixão, em um lugar empoeirado, do meu lado meus livros, minhas idéias, tudo tão antigo, e tudo ruindo, acabando, e eu mesma estou cheia de poeira, não consigo ver a verdade, fora das sombras dessa caverna, a velha alegoria. A velha busca, de ir além, persegue homens e mulheres desde os tempos mais remotos, a vontade de entender Deus, entender a nós próprios, desejo de estar perto dele. Megalomania.
As vezes penso que Deus existe sim, existiu desde sempre mas é fruto da consciência, mas por que tenho tanto medo de dizer que as vezes não acredito que exista um Deus, mas (e tento me desculpar com Deus)isso passa e vejo que há sim Deus, mas onde? Em nós? Depois do lugar que enxergamos? E ele é bom ruim ou os dois? Se é bom por quê? Se é ruim por quê?  E por que não alimenta os famintos, não resolve as injustiças? Deixa tudo em nossas mãos. E nós fazemos tudo tão mau ou mal, doente ou escuro, fazemos, expomos nossa alma em todas as nossas atitudes, expomos a nossa inconstância, e nos dividimos entre bons e maus, atitudes boas e más.
Por outro lado, uma vontade nos impele a existência, uma vontade de nos perpetuar, essa vontade unicamente nos justifica? E pra onde vai nos levar? O tempo vai, e eu vou ficando aqui, nessa camada de existência, nesse alicerce, e um medo, de que nada disso valha a pena ou tenha um sentido, um medo de respirar em vão, mas e se eu conseguisse me libertar de tudo, o que eu veria? E de que me valeria se eu não tivesse mais ninguém pra partilhar.
Enfim algo nobre, compartilhar e essa enorme necessidade de me unir aos outros, ao todo, um grande corpo, o que nos move é a vontade de ser diferentes do resto, e realmente somos, mas Somos todos iguais, e dividimos o pouco conhecimento que dispomos, todo o pouco que dispomos criamos um grande tudo. Tudo que existe, uma eterna vontade de satisfazer nossas necessidades corporais e vivermos da forma mais cômoda possível e o que isso gera? Preguiça, lassidão, quais são mesmo essas necessidades que nunca conseguimos suprir? Queremos a caso ser novos Deuses? Ter tudo a o alcance das mãos e decidir ou não o destino de pessoas?
E as profecias? O fim do mundo vem em nossa direção, pois estava escrito desde sempre não há como fugir do desenrolar da história, dos filmes do tempo, está escrito, é questão de tempo, está escrito mais forte em nós mesmo, então se anunciam as eras, se anuncia o fim o branco total, pois depois do fim nada mais é posto na história, ninguém nos conta o que ocorrerá depois que os bons e os maus forem separados, o que tem depois?
Se vivemos pra alimentar as vontades desse corpo, e se não termos mais corpo o que ocorrerá?
Milhões de homens se empilharam no tempo, Aristóteles, Platão, Nietzsche, Freud, Jung, homens com condições que humanas que se comparam as minhas, sucumbiram ao tempo, mas também se imortalizaram. Estão aqui de certa foram. Queriam o mesmo que eu livrar se dessa ignorância extrema em que sou jogada, me livrar dessas amarras, (então me vem a imagem do New de matrix que se livra dos cabos que o ligam ao sistema) enxergar quem me controla e pra onde está me levando, quero apenas nadar e me salvar, pra chegar a um lugar em que minhas palavras serão entendidas, e a comunidade que vai me entender, e novamente a comunidade se torna minha última necessidade, uma comunidade menos bestial, menos controlada, menos a serviço de instintos desconhecidos, de necessidades com sentido desconhecido ou ausente.
Tudo isso se descortina na minha frente, tudo que está em mim, gravado, ocupando espaço, me dizendo algo, dizendo talvez apenas nasça, cresça, reproduza, morra; deixe que os seus cumpram seu destino, seu papel assim como você, que tola, acredita em destino. Acredita em algo além.