Desgramática



Essa história mal escrita me tirou a concordância e a regência. Dei a ela todos os meus adjetivos. Fiquei página em branco, voz passiva, sujeito indeterminado, um travessão mudo, artigo indefinido, verbo regular, deixei de ser.
Quisera ser feliz, quando me imaginava primeira pessoa do plural, pretérito mais-que-perfeito. Hoje reaprendo a viver e sofrer infinitiva e no singular, enxugando as virgulas do meu rosto.
Reescrevendo as orações do passado sem o teu pronome de tratamento eternamente oblíquo. Tentando ler a vida além do ponto final.
Preciso de uma borracha pra apagar a memória, novas regras de acentuação, enxugar os períodos em casa, parar de acreditar nos amores-perfeitos com ou sem hífen; conhecer novas línguas e embarcar em algum realismo fantástico.