Cinza



Alguma coisa vai mudar, eu sei, eu já mudei.
Meu espírito é como um rio que procura o mar, minhas águas já não são mais as mesmas, e eu comemoro outra revolução buscando o mar.
Por hora meu espírito agradece, louva pela luz que mergulha do céu e desliza suave, brilhando nas copas das árvores, lagos, flores, admiro a tela de Deus.
Por hora o tédio me consome, enquanto o tempo me arranca de mim.
Saboreio meu caos particular, caos gerador, caos criador.
A cada ano tento me resumir, filtrar tudo o que eu vivi, destilar o que vou levar pra sempre; tento evoluir. Embora me pegue por vezes topando nos meus erros de criança, com medo do escuro, querendo colo, seio e alento de mãe.
Renasço das minhas cinzas, reacendo a chama, olho o horizonte com olhos destreinados e me apaixono mais uma vez pela vida; minha alma flameja, vendo tudo pela primeira vez, me apaixonando de novo e de novo.
Confesso que não existe sensação melhor do que a de começar algo, uma folha branca, muitas tintas, e posso recomeçar quantas vezes quiser, quando nada mais fizer sentido, basta virar a página e recomeçar o desenho.
Me dou livre arbítrio, saboreio toda a liberdade que cabe dentro das minhas grades.
Sou humana, me deram sentidos pra pensar e pensamentos pra sentir; dias pra dormir, noites pra viver e coragem pra contar o tempo!